Nós temos o Hulk (uma reflexão do ano passado)




Conversando com algumas crianças vi que elas gostam muito do Hulk, ele é forte, grande e esmaga, não tem pra ninguém. Eu também gosto muito do Hulk, me identifico com ele, me vejo naquele monstro verde, no homem que luta consigo mesmo.

Recentemente descobri que os criadores do Hulk se inspiraram na história do livro "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson. Sabendo disso, fui ler o tal livro e conheci um pouco mais sobre mim mesmo e sobre a minha maior batalha, a interna.

Abre parêntese. Essa relação do médico com o monstro pode ser entendida como uma analogia para a relação (ou simbiose) do ser humano com o pecado. Essa analogia faz muito sentido, principalmente quando comparamos com o que Paulo escreve em Romanos 7.18-25.

Seguindo por esse caminho poderíamos trazer para o diálogo o Homem Aranha para falar da sua relação com o alienígena Simbionte (lembra do Homem Aranha Preto?). Mas não é sobre isso que quero falar agora. Fecha parêntese. 



É estranho, às vezes parece que eu não sou só um mas dois. Dois Eus lutando na minha consciência, disputando o domínio sobre o meu corpo. Essa é uma luta agonizante, na qual os dois são obrigados a se manter continuamente. Essa é uma luta de sombras que acontece em meio à escuridão, no recôndito do meu ser. 

Na tentativa de identificar e entender essas sombras, resolvi iluminar minha escuridão. Parte dessa luz veio dos filmes da Marvel, especialmente aqueles em que o Hulk aparece.



Em "Vingadores" (2012) e "Vingadores: Era de Ultron" (2015), eu descubro que tenho o Hulk mas não quero aceitar essa verdade. Eu consigo ver e ouvir algumas sombras mas não quero escutá-las ou entendê-las. Aqui se inicia o conflito. Machuco a mim mesmo e as pessoas que se aproximam. Não sei lidar.  Rejeito a mim mesmo e me sinto rejeitado. Me afasto. Fujo de mim. Me coloco no meu lugar, pra te privar, pra evitar.

Em "Thor: Ragnarok" (2017), Hulk é a parte de mim com um apetite insaciável por afirmação. Hulk é a perda de identidade, é o monstro, "o impostor que vive em mim". Ele é o "eu" interior vaidoso, que gosta de ser visto e paparicado, preocupado com a aceitação e aprovação dos outros. Sua cor, força e tamanho são as ilusões que crio para me proteger e esconder meus medos, inseguranças, fraquezas, defeitos; para suprimir e camuflar emoções e sentimentos; para criar uma imagem pública que todos admirem e ninguém conheça.

Em "Vingadores: Guerra Infinita" (2018), Hulk leva uma surra do Thanos. Hulk é derrubado, humilhado, nocauteado, foi à lona, foi K.O. Depois disso Hulk se esconde, se sente envergonhado, se sente nu. De uma maneira nada agradável o gigante esmeralda descobre-se impotente, insignificante...vulnerável. Esse dia chega para todo mundo. O dia que que não queremos mostrar pra ninguém, não postamos nas redes sociais, não queremos sair de casa. Nos escondemos, fugimos, choramos.

Nessas horas, quando não conseguimos mais manter as aparências, o fardo fica pesado e insuportável, nos chocamos com tudo o que está acontecendo e descobrimos que perdemos o contato com a verdade, com quem realmente somos. Precisamos e devemos nos aproximar daquele que nos criou, nos sonda e nos conhece. Ele oferece alívio e descanso; oferece um lugar de segurança e refúgio; oferece cura e restauração.

Em "Vingadores: Ultimato" (2019) Bruce Banner e Hulk percebem que não são dois, o médico e o monstro são partes da mesma pessoa. Por mais que lutem não podem se separar um do outro. No início eu poderia dizer que uma das partes era boa e a outra ruim. Mas agora que escuto as sombras entendo que o médico não é um santo e o monstro não é tão mal assim. Será que todos os seres humanos são uma mescla de bem e mal?

Preciso trazer algumas coisas para a luz e aprender a lidar com minhas sombras. Assim poderei identificar que desejos, impulsos e necessidades sufoco dentro de mim.

Deus fala de diversas formas, às vezes silencia e parece se afastar. Dessa vez ele falou comigo por meio de um livro e de alguns filmes. Ele molda meu caráter e me conduz ao crescimento e amadurecimento de maneiras inesperadas.

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Músicas que tem a ver com esse texto:

Tuyo - Conselho do Bom Senso 


Daniel Caldeira - Meu Coração é um Dragão 


Oficina G3 - Meus passos


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